sexta-feira, setembro 21, 2007

A emancipação deles

A emancipação das mulheres já passou por um longo processo, já atravessou fases, já recolheu dividendos. Não parou, não estagnou, é ainda muito necessária e vital em muitos momentos e em muitas partes do mundo, não fosse dar-se o caso de estatisticamente o mundo estar inundado de números que justificam essa mesma emancipação. Falar em emancipação, hoje, é falar sobretudo em derrubar estereótipos, ultrapassar canônes sociais redutores e muitas vezes ameaçadores, que tanto podem variar entre a eliminação de práticas institucionalizadas de violência sobre as mulheres ou, simplesmente, aumentar o peso (na balança) das top-models. Na sociedade ocidental, capitalista sem freio, adepta do culto da beleza e do social, falar em feminismo implica falar de emancipação dos canônes veiculados pelo certo lifestyle trendy que nos vendem massivamente. Implica libertar-nos daquilo que a tv, jornais, colega do lado nos vociferam sem dó nem piedade, ou sequer consciência do que falam. Implica sobretudo libertar as nossas crianças de um certo tipo de socialização que nada tem a ver com integração na sociedade, mas apenas com sufocação de identidade na sociedade. Falar de feminismo, nesse sentido, é falar do processo de liberdade. E, por isso, para mim, não há feminismo, sem "masculinismo" (palavra bem feia e sem qualquer credibilidade).
O homem (com agá pequeno) está longe de estar livre dos estereótipos impostos, como se pode ver neste artigo do Público, que revela um estudo sobre o Papel dos Homens na Família em Portugal. Que homem, pergunto eu, será livre se ainda se considera como o pilar financeiro de uma família? Que homem será livre se não conseguir perceber o que quer para além do próprio facto de ser o "provedor" do lar? Se não for mais do que a imagem lançada por gerações e gerações, que liberdade é a sua?

Parte dos homens sente-se sem dúvida ameaçado pelo feminismo. Porque de alguma forma, pressente que a emancipação das mulheres pressupõe um combate contra ele e uma destruição das expectativas que poderá ter sobre a mulher. Mas a meu ver sente-se assim pelas razões erradas. O feminismo, como o vejo, é a favor do homem - só assim faz sentido. É a favor da libertação do olhar do homem sobre a mulher. E, por consequência, é a favor da liberdade do olhar do homem per si. Sem instrumentalizações dos antepassados. O homem pode sentir-se ameaçado, sim, porque provavelmente a emancipação de si próprio implica alguma destruição de si próprio ou de alguns pontos que tem como seguros na sua dita "virilidade". Mas o homem merece mais que ser viril. O viril vem-lhe com o pénis. Merece ser uma pessoa completa, com direitos que a sociedade já lhe reconhece e que ele ainda não sabe reclamar. O homem merece ser total. E para isso a mulher tem de ajudar, libertando-se também do olhar que tem sobre ele, superando esse olhar. Porque só assim seremos livres, homens e mulheres.

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3 Comments:

At 24/9/07 12:24 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Este post já me deixou a pensar o fim-de-semana todo...

Vivem-se tempos dificeis entre homens e mulheres, entre relações, vive-se um desiquilibrio enorme, como noutras gerações... como sempre aliás...

Preciso encontrar um casal equilibrado que me faça acreditar que é possivel ter filhos e dividir tarefas, responsabilidades, amor.

Acho que o Homem precisa de chamar a si o seu espaço, mas também acredito que a mulher ao mesmo tempo que lho quer dar também não abdica totalmente dele, do seu trono... há quem se queixe que o homem não ajuda, há quem odeie que se diga que eles ajudam... há quem se queixe que o homem esteja sempre lá e não dê espaço... há um desiquilibrio gigante entre os que se dedicam demais e não fazem mais nada e os que continuam a jogar futebol com os amigos 3 x por semana e que nunca fizeram a sopa dos miúdos e passados 3 ou 4 anos continuem a não saber onde esta o pijama deles...

São varias as amigas que se queixam... da falta de presença... do excesso de presença...
Cheguei à conclusão que muitos casais se separam e que nem os homens emancipados, maridos e pais presentes se safam... não sei se por falta de desafio... as mulheres parecem continuar a acreditar que os vão mudar... esse desafio continua a alimentar relações... as outras tendem a procurar outras coisas...pq não se muda o perfeito.

O problema está na cabeça deles e delas, como tu própria dizes...
O homem precisa conquistar espaço, mas a mulher tem um papel a desempenhar nesta conquista.
qual é? não sei bem...

Eu continuo a acreditar.

 
At 25/9/07 11:23 da manhã, Blogger ana said...

eh lá! mas que belo post este. parece-me que estamos a convergir...

 
At 22/10/07 8:45 da tarde, Blogger Ana Rosa said...

Obviamente que o femenismo trouxe-nos liberdades que não tinhamos antes...mas a democracia também as trouxe, sem obrigarnos a renunciar a nós mesmas.
O espaço deles, o nosso espaço...e cada vez vivemos todos mais afastados,
eles com medo,
nos desesperadas na tentativa de ser o que nos exigem ser,
andamos indefenidas...e o femenismo não nos veio dar respostas as nossas necessidades...continuavamos perdidas, mas agora deixamos de usar soutien...
ja so sei que já não sei...

 

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