quinta-feira, outubro 19, 2006

Estado geral de graça



Passei muito tempo em casa dos meus avós. Dias e dias seguidos até fazer 3 anos e ir para a escola. Depois, sendo o Externato "O Bambi" mesmo ao pé da casa deles, almocei lá sete anos seguidos e, nas férias grandes, o tempo que não estava no Algarve ou na terra era preenchido pela casa grande da Rua das Trinas, com correrias (incêndios, derrubes de plantas, assaltos à caixa das bolachas,...) e idas ao Jardim da Estrela. Depois saí do Externato, fui para o ciclo, e a casa da outra avó era o local onde pousar o almoço, com tardes intermináveis passadas no sofá a imaginar, a imaginar e a imaginar. Lá para o Décimo ano voltei para as paragens da Lapa e voltei aos almoços e tardes em casa dos meus avós nas Trinas. Depois disso, a assiduidade naquela casa, que me permitia ser a única neta com chave para entrar sempre que quisesse, tornou-se menos constante. E em breve tornei-me visita da casa, em vez de parte da mobília.

Bom, este é o preâmbulo para o post. Nestes anos todos de convivência e permanência junto à minha avó, uma das suas características distintivas era o "efeito melhoral". O melhoral era um medicamento que ela tomava sempre que tinha qualquer tipo de dor e melhorava sempre. Durante anos, enquanto foi mais independente, podia ignorar todos os outros comprimidos receitados pelo médico, mas o melhoral lá ia sempre. Nunca vi mais ninguém no mundo tomar o dito comprimido, mas naquela casa nunca faltava uma embalagem. Depois o melhoral desapareceu. Provavelmente porque os filhos dela (os meus tios e a minha mãe) o tiraram de lá. Não havia controlo para aquilo, tomava os que quisesse e deviam ser autênticas bombas para o estômago. Reumático, dor de cabeça, fosse o que fosse, melhoral com ela. O remédio perfeito para tornar a vida mais fácil.

O melhoral não desapareceu. Ainda existe, como constatei aqui. E soube finalmente que tem a mesma composição da aspirina, e embora com um nome mais eficaz e básico (como eu gosto) menos credível.

O melhoral desapareceu simplesmente da minha vida. Primeiro, sem que eu me desse conta. E agora de forma evidente. Ontem, lembrei-me do comprimido e como era solução para todas as maleitas, elogiado pela minha avó como o melhor de todos. Era um mito, hoje é apenas uma aspirina. Mas uma aspirina com poderes mágicos, uma aspirina que só a minha avó conhecia.

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5 Comments:

At 19/10/06 4:00 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Estou a precisar dum melhoral mágico desde ontem, mas mesmo sem comprimido a história faz sorrir!
É que funciona mesmo!

;-)

 
At 19/10/06 5:34 da tarde, Blogger ana said...

tb tenho saudades da minha, muitas

 
At 19/10/06 5:34 da tarde, Blogger ana said...

... da minha avozinha, leia-se, não é da minha caixinha de melhoral ;D

 
At 19/10/06 6:09 da tarde, Anonymous Anónimo said...

conseguiste duma só postada alterar definitivamente o sentdo de uma frase que mora na minha cabeça desde a infância: "ó pá isso é como o melhoral, não faz bem nem faz mal!"

 
At 19/10/07 4:17 da tarde, Blogger Simone said...

Olá!
Estava a fazer uma pesquisa acerca do Externato Bambi e dei com o seu blog... estou a ver escolas para o meu filho (1º ano do 1º ciclo) e essa é uma das hipóteses. Poderia dizer-me a sua opinião sobre a escola, os métodos de ensino, etc? Muito Obrigada, Simone

 

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