terça-feira, novembro 08, 2005

Quanto vale uma vida humana?



Ontem, fui ver o Fiel Jardineiro, do Fernando Meirelles.
Grande filme.

É uma história de amor, mas é também mais que isso.

Quanto vale afinal uma vida humana para este sistema em que vivemos? Eu, burguesa pronta a praticar o meu cinismo altivo preocupado com a alma e a existência humana enquanto caminho individual, pergunto-me qual o valor da miséria humana. Se ela é transversal, como de facto acredito, é evidente que, em muitos casos, é muito mais brutal e mais dolorosa.

Tudo aquilo que nos rodeia, todas as nossas grandes obras, todas as pequenas coisas que sustentam o nosso modo de vida existem à custa de quanto sofrimento? Toda a nossa civilização ocidental, moderada enquanto for alimentada, sustenta-se em quantas mortes?

África. África é o nome do preço que pagamos, enquanto humanidade. É de lá que extraimos parte da nossa civilização e é nela que depositamos a maior parte do sofrimento que não estamos dispostos a receber.

Os pilares da nossa civilização já não são o judaísmo, o cristianismo, nem o império romano, nem a cultura grega. Os pilares são as Farmacêuticas, as Petroleiras e as Tabaqueiras. E, nós, meros peões, meras marionetas, aceitamos o nosso papel, evitando cuspir na sopa enquanto ela sabe bem. Não mordemos a mão que nos dá de comer, mesmo sendo a mesma mão que nos destrói aquando necessário.

O valor de uma vida humana define-se pelo Amor.

E o valor da vida de cada um define-se por cada gesto de indiferença, de inacção, de cumplicidade. Até quando? Até quando, pergunto-me a mim. Nem sequer valorizo esta indignação, esta culpa, esta interrogação. Não passo de uma espectadora de cinema. A seguir vou à minha vidinha.



Há que sair daqui. Há que ver a vida com outros olhos.

8 Comments:

At 8/11/05 1:06 da tarde, Blogger ana said...

"Ó, mundo tão desigual
Tudo é tão desigual
Ó, de um lado este carnaval
Do outro a fome total"

(gilberto gil)

 
At 8/11/05 2:24 da tarde, Blogger ana vicente said...

agradeço ao povo brasileiro.

Não é à toa que foi um brasileiro a realizar este filme.

 
At 8/11/05 3:33 da tarde, Blogger ana said...

o que me irrita mais é nós não sabermos qual a cara da mão que devemos morder, quem ao certo manda "nisto"...

 
At 8/11/05 4:50 da tarde, Blogger ana vicente said...

Esse é mesmo o problema, de facto!

Eu desconfio que não há ninguém no topo da pirâmide, andamos todos a alimentar-nos uns aos outros e aos safanões também. É uma merda!

 
At 8/11/05 4:58 da tarde, Blogger ana said...

bom, ok, mas não me mordas a mão a mim, hã? eu até sou uma doadora de sangue e até voto nos partidos de esquerda! e uma vez comprei uma coisa qq da unicef, e tudo!

 
At 10/11/05 2:40 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Do fiel Jardineiro a Querem-nos é todos impotentes. E até quando?

Ainda estou com este filme na cabeça, a verdade é que há muito tempo que um filme não tinha um impacto tão forte sobre mim.
A história de amor é linda os planos de África fantásticos mas não consigo deixar de pensar na sensação de impotência com que este filme me deixou. A impotência perante África, perante os mais fortes perante o colectivo sob o individual. Enfim...
Ralph Finnes é exímio, contido e brilhante! Raquel 'Weizzizd' é inteligente na vida que dá à personagem, na sexualidade vivida com que a enche mas sobretudo no espaço que dá ao marido para que ele subtilmente comece a encher a tela.
E o Fernando é, mais uma vez, um Provocador

Temos de ir ao cinema juntas.
Porque é que nunca fomos?

 
At 10/11/05 3:18 da tarde, Blogger ana vicente said...

Houve um dia que nos encontrámos por acaso e fomos ver o mesmo filme. O português "Adriana". Foi divertido. No final, dissémos tanto mal que conseguimos subverter a experiência.

Das outras vezes, não houve coordenação nem compatibilidade.

Mas iremos, com certeza. É só escolher o filme.

 
At 13/11/05 12:10 da manhã, Anonymous Anónimo said...

sim mas dessa vez não conta

bjos
m.

 

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