Sobre escrita
“(…) cada pessoa humana sofre que nem se imagina. Cada pessoa, não falo em manequins ou bonecos de corda. E é preciso que um sofrimento dê às vezes ocasião a que quem o sofreu despeje toda a dor de muita gente num livro ou quadro ou sinfonia ou no raio que parta. É a partir desse dar forma ao que nos angustia que nasce a esperança e pode reencontrar-se a pista da grande alegria perdida, a alegria com que cada pessoa vem ao mundo. É o riso do puto contra as brutalidades que os adultos praticam e deixam praticar. Lembra-te daquelas fotos do Picasso, em shorts e a rir-se em cada ruga funda. Por detrás do riso do Picasso há toda a tanta treva que os humanos atravessam. O bombardeamento de Guernica e a raiva do Picasso conseguiram uma profecia. Toda a criação é profética. É preciso conseguir juntar a febre de escrever à aprendizagem da maneira de trabalhar na escrita. Tu não podes estar simultaneamente apaixonado e escreveres dessa paixão. Quanto ao resto, todo o escrito só conta sempre uma história: a do que ele viveu e morreu, viu viver e viu morrer. Falo de quem escreve com sangue e não a tira-linhas e compasso.”
Nuno Bragança, Square Tolstoi
Com o patrocínio deste senhor.
5 Comments:
bonito. é uma escrita-terapia?
acho que é mais catarse e superação...
e talvez leitura-terapia.
qual a relação entre a catarse a superação e a terapia?
mandas as coisas cá para fora (catarse) para mandá-las para trás (superação)... e depois há-de haver alguém que usa essas coisas como análise das suas próprias coisas (terapia).
explicação profundo-coisa.
muito boa explicação. fez-me lembrar uma dança japonesa que uma vez a luisa me ensinou. bonita a dança. curto catarses
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