É obvividente*!
Ocorre um fenómeno estranho nestas presidenciais. Aliás, ocorrem muitos, mas este é particularmente interessante para mim.
Quase nunca falo mal do Cavaco entre os meus amigos e família. Quase nunca ouço falar mal do Cavaco. Tirando este incompreensível caso, a única reacção que a palavra cavaco provoca é um esgar de náusea, um rol de impropérios e difamações, um olhar para o céu pedindo clemência e boa vontade, um choro incontido, um encolher de ombros causado pelo desespero, uma conformação a uma verdade infernal. Porquê? Porque é, para todos nós, óbvio e evidente que o Cavaco é um asco, um ser abjecto, uma pequena barata que desprezamos mas que nos sobrevive, um feio, um baboso, um desdenhoso, um idiota. Nunca odiei tanto um político, até aparecer o Santana, como odiei, nos meus dias de juventude, esse senhor cavaco, esse homem, essa figura, esse sujeito.
Não falamos dele. Discutimos qual será o melhor candidato de esquerda, pegamo-nos até se for preciso, mas é só para manter algum fervor político. Insistimos em ignorar esse homem, com medo que o reconhecimento dele comece cedo demais.
Pergunto-me, em momentos de absoluto provincianismo da capital, por que ganhará ele, se entre os meus não há quem nele reconheça sequer a linha no boletim de voto? Obviamente que o provincianismo cessa e compreendo. O cavaco não é para os meus, nem nunca será. O cavaco é para alguém que desconheço ou, pior, é para alguém que não quero conhecer. E aí, assusto-me, porque me confundo com os snobs da esquerdalha ou com os intelectuais de esquerda ou com a arrogância dos iluminados.
Assusto-me. E por isso prefiro blasfemá-lo, insultá-lo, pontapeá-lo com as palavras. Assim me alivio. Assim volto a ser massa votante. Convido-vos a fazerem o mesmo...
* Óbvio e evidente. Contribuição da Inês, a prima, citando, ao que parece, um professor de Geografia que teve na escola.
5 Comments:
"O cavaco é para alguém que desconheço ou, pior, é para alguém que não quero conhecer"
eh pá, sim, não, não vás por aqui. mais vale blasfemá-lo do que fazer com que ele se torne um crítério.
há muita gente que conheço e gosto que vai votar cavaco. "coitados" digo-lhes eu, e mando vir mais uma rodada de cervejas.
Claro que sim, ana!
o caso que refiro é também um amigo.
O que queria dizer, para além de estar a usar a minha prosa no seu modo obtuso, é que os 60% que vão dar a vitória ao cavaco eu não os conheço nem os compreendo.
(mas é obvividente que quero conhecê-los. ai se quero, Interessam-me as outras culturas.)
No limite, este é um post acerca do limite da arrogância, que apanha os de esquerda, os de direita, os cavaquistas e os anti-cavaquistas.
e sim torná-lo critério nunca! chamá-los coitados parece-me suficientemente insultuoso! cool!
Só queria dizer que, a bem da verdade, o que o senhor dizia (e acho que ainda diz) é ÓBIDENTE!
É ÓBIBIDENTE que esse senhor de que falas cheira mal dos pés.
em que ficamos?
é obidente?
ou é obibidente?
Caraças que isto está difícil:
ÓBIBIDENTE
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