quarta-feira, janeiro 11, 2006

Grita fogo!

Qualquer livro é inescapavelmente político, no sentido moral, mas, até há pouco tempo, o abertamente político parecia-me não ter lugar numa novela. Sempre achei que a minha obrigação como cidadão era lutar contra as políticas do Ronald Reagan, a minha obrigação como escritor era perceber como é ser Ronald Reagan. Sempre achei que a ficção pedia uma certa amoralidade e que era o nosso melhor meio para perceber a forma de pensar de pessoas muito diferentes de nós. Hoje percebo que isto só é verdade até certo ponto. À medida que as coisas ficam muito mal – como ficaram nos Estados Unidos –, começamos a sentirmo-nos como uma pessoa que está a escrever dentro de uma casa em chamas sem nunca mencionar a palavra fogo.

Michael Cunningham, Entrevista Milfolhas, Público, 3 de Dezembro de 05

2 Comments:

At 12/1/06 8:51 da manhã, Blogger ana said...

muito boa esta entrevista!

e que bem que sabe comê-la às colheres!

gosto de arte abertamente política.

 
At 12/1/06 11:05 da manhã, Blogger ana vicente said...

não gosto da arte politizada, mas a arte é sempre um acto político.
Grande entrevista, sim. E grande livro, também, o último. Dias exemplares. ainda não li todo, mas até agora recomendo vivamente.

 

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