domingo, novembro 13, 2005

"É um bocado esquisito"


Ontem fomos até ao Museu do Chiado ver a exposição do William Kentridge. O Manso já me tinha aconselhado aqui a ir lá com a criança, depois das suas dúvidas acerca da representação visual da Lua Nova.

Pois bem, ia um bocado à deriva, sem grande noção do que nos esperava. Entrámos numa sala escura com diversas projecções de filmes. O facto de serem a preto e branco fez-me duvidar que o miúdo de 4 anos ficasse minimamente sensibilizado. Mas estava enganada. Começou por querer tocar numa das projecções, a mais abstracta visualmente falando. Apercebendo-se que aqueles "pequenos bichos" não tinham realidade palpável, começou a investigar os projectores, a tomar conta do espaço. Depois, sentámo-nos no chão e começámos a ver os filmes.

Obviamente não tinham nada de narrativo, mas isso não o impedia de perguntar o porquê de tudo. Por que é que o desenho ganhava vida, por que é que o pires andava de um lado para o outro, porquê, porquê? Não é fácil responder a perguntas dessas, quando já estamos condicionados a ter uma leitura conceptual. E, de facto, a única pergunta a que saberia responder, com alguma lógica na minha cabeça, era por que é que o homem fez aquele trabalho. O que é que ele poderia querer dizer.

Finalmente, disse-me "isto é um bocado esquisito". Aceitei a ideia e, a partir daí, estávamos mais livres para ver simplesmente. Apenas isso, ver. Demos a volta à sala e ele queria ver do início ao fim cada filme, não lidando bem com o facto de o princípio e o fim não estarem bem demarcados. Disse-lhe, quando quisermos, vamos e ele respondeu que ainda faltavam filmes para ver.

Ficámos uns bons 45 minutos lá dentro, até ele dizer estou um bocado cansado de estar aqui. Descemos, saímos e fomos ao Carmo lanchar. No fundo, parece-me que ele aguentou muito mais tempo que a maior parte das pessoas que foram ver a exposição. E, apesar de ainda não ter superado a narrativa, conseguiu estar mais à frente em certas inquietações. No fundo, faz o mesmo tipo de perguntas acerca da obra do William Kentridge, sobre as opções arquitectónicas do Museu ou acerca da quantidade de doce que coloco no seu crepe. O porquê é o mesmo. E é esse que é essencial e desmesuradamente insatisfeito.