terça-feira, fevereiro 19, 2008

O mundo ao contrário - o justo pelo pecador

Não basta a chuva, agora o Fidel renuncia, deixando-me um pouco cabisbaixa com a nostalgia de conhecer um país dirigido pelo dito. Não sou pró-regime, mas gostava de ter conhecido a Cuba de Fidel e, agora, já é tarde. 

Mas a grande notícia do dia são as famílias numerosas a propagandearem. É lindo: pediram aos líderes religiosos para pôr fim à equiparação entre casamento religioso e casamento civil. O pessoal até poderia pensar "ena pá, estes gajos estão progressistas, estão a favor de um estado realmente laico". Mas não, eles estão é a favor de estado nenhum. Uma conquista recente, que já falei aqui, foi a generalização desta equiparação a outras religiões que não a católica. Agora, vêm estes senhores fazer demagogia, demonstrando um profundo desprezo pela ideia de Estado, regozijando-se com a ideia (romântica?) de que, casados aos olhos de Deus, que interessa o resto?

Mas porquê? porquê?

Porque afinal sentem-se discriminados. Discriminados pelos "privilégios" fiscais dados às famílias monoparentais, que lhe são "roubados". Vale a pena ler a notícia e reflectir sobre os argumentos e os comportamentos destas pessoas, que fazem uma reenvindicação (que eventualmente até poderia ser justa), mas que mascaram com pretensões de superioridade moral. Porque afinal todos podemos e devemos reclamar, reinvidicar direitos, exigir contrapartidas, mas porquê fazê-lo com demagogia? 
Na verdade, parecem dizer que não aguentam aceitar a sua decisão de serem um casal com filhos, sem estarem casados. E, pior, parecem não entender que há uma realidade para além deles, com os seus oito filhos, que passa por mães e pais solteiros, viúvas e viúvos, divorciados, e muito mais que não querem ver. É por isso que se acham moralmente superiores - porque são incapazes de reconhecer um mundo que não se guie pela sua cartilha.


Enfim, outros milionários indignados são os senhores da Porsche, que vão processar Londres por querer ser mais amiga do ambiente. Leia-se aqui, para comprovar como são os mais endinheirados que consideram "injustas" as medidas que privilegiam uma ideia de social e de colectivo. 

Tanta hipocrisia que por aí vai.

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