terça-feira, janeiro 03, 2006

Positivo em quê?

Hoje, ouvi um sujeito com responsabilidades na Brigada de Trânsito a dizer que a operação Ano Novo teve um balanço positivo.

Morreram oito pessoas (oito!) e 26 ficaram feridas.

Como é que alguém diz que foi positivo? Será que é uma besta? Será que não tem noção de que cada uma daquelas pessoas tinha uma rede pessoal cujos limites são, a olhos estrangeiros, completamente indefinidos e indestrinçáveis? Que as expectativas, o amor, as pequenas merdas do dia-a-dia, o diz que disse e o que não disse, a cor de cabelo, os segredos, o tique, a expressão que só um ou dois conhecem, e tudo o mais que marca a diferença de cada pessoa da nossa vida perdeu-se?

Perderam-se oito mundos, oito. E aquele anormal fala de balanço positivo? Não poderia ter falado em estatística favorável, em dados menos graves? Teve de usar a expressão "balanço positivo"?

Apetecia-me partir-lhe a boca, a sério. E não perdi ninguém. Grandessíssimo filho da puta!

4 Comments:

At 3/1/06 1:51 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Estupor. Faço das tuas palavras minhas.
Na antena 3 há mesmo um sujeito que é o responsável pelo trânsito que às vezes está-se a rir de piadolas enquanto diz que houve 1 acidente não sei onde e para ir por outro lado... por muito que tenham de lidar profissionalmente com situações de acidente há que manter alguma sensibilidade e sobretudo respeito por quem está envolvido.

 
At 3/1/06 9:16 da tarde, Blogger jctp said...

Há que distinguir entre um ignorante e um filho da puta, um estúpido e um bandido. Um filho da puta normalmente sabe muito bem o que está a dizer ou a fazer e pouco lhe importa se vai ou não prejudicar alguém desde que ele ganhe alguma coisa, um estúpido ou um ignorante não faz a mínima ideia do que está a dizer ou a fazer, normalmente não ajuda ninguém e até se prejudica a si próprio. Foi talvez o que aconteceu a este pobre homem, brigadeiro do trânsito, que deve pertencer a alguma subespécie da ignorância ou da estupidez, e que pelo que disse, sem saber o que dizia, é insultado desta forma violenta pala Ana Vicente. Não há direito, diria o nosso homem da brigada, insultarem-me desta maneira, fique a senhora Vicente sabendo que não sou filho da puta nenhum, não sou não, senhora, o que eu sou é o estupor de um ignorante e de um estúpido, e com muito orgulho.

Agora imaginemos que em vez de oito pessoas tinham morrido quatro. O nosso agente iria provavelmente dizer que o balanço era muito positivo. E se só tivessem morrido duas, então nesse caso, o balanço seria extremamente positivo. E se ninguém tivesse morrido nem ficado ferido, provavelmente, o nosso agente, meio baralhado, declararia que, assim sendo, teríamos que concluir não haver balanço.

 
At 4/1/06 10:56 da manhã, Blogger ana vicente said...

jctp, voltamos a uma velha questão, parece-me.

Acho que tens toda a razão quando dizes que não tem noção, mas a ignorância, a bestialidade e a estupidez levam a filha-de-putices. E eu não sou nada tolerante à estupidez, confesso - é o meu lado arrogante.

 
At 4/1/06 7:19 da tarde, Blogger jctp said...

Esqueci-me de acrescentar que um estúpido (vulgo, ignorante) é muito mais perigoso do que um bandido (vulgo, filho da puta), como bem o defendeu o Carlo Cipolla. Aqui, um comentário em português e aqui, as palavras do Cipolla traduzidas para inglês, com ilustrações.

 

Enviar um comentário

<< Home