quarta-feira, junho 27, 2007

Asneirada

AVISO PRÉVIO: este post contém linguagem que poderá ser considerada ofensiva. E ainda bem...


Há uns filhos da puta numa tal de Comissão do Livro Branco das Relações Laborais que emitiram um relatório proxeneta propondo alterações ao código do trabalho verdadeiramente insultuosas para todos os trabalhadores. A merda que eles propõem não é mais que um conjunto de medidas feitas para facilitar a vida dos patrões, coitadinhos que são sujeitos aos "amplíssimos" direitos dos trabalhadores, verdadeira bizarria com certeza aos seus olhos cabrões.

Extraordinariamente, tais medidas são justificadas com o mais incontestável dos argumentos: "O objectivo é dar mais liberdade à organização interna das empresas, de modo a que estas se possam adaptar melhor às exigências do mercado, garantindo a competitividade do País." As exigências do mercado são as mesmas aqui como na China, logo podemos ver para onde caminha a situação laboral neste país. Tudo é justificável pela lei da competitividade. Inclusive acabar com limites de horas diárias de trabalho, facilitar despedimentos, reduzir férias. Merda para isto, que neste caralho de parágrafo ainda não tinha escrito nenhuma asneira. Os punheteiros (sem qualquer conotação positiva) que ainda acreditam que a economia pode crescer sem limites atropelam os limites humanos, porque estes afinal devem ser é aquela coisa dos direitos que se inventou e não se percebe bem o que querem dizer, porque afinal direito é direito a ter, a comprar, a possuir. O único direito legítimo que reconhecem é o do poder.

Se até agora, todos podiam contornar as regras sem grande dificuldade, exigir mais do trabalhador (visto como privilegiado, porque afinal tem uma merdalhonga de um emprego, mas ainda assim um emprego) até ao ponto de ele confundir sacrifício pessoal com profissionalismo e dever, em breve deixará de ser preciso. Far-se-ão as regras em função dos mais necessitados: os senhores que precisam de ser competitivos. O cretino do mercado na sua cegueira habitual fará a separação entre os fortes e os fracos. Ao trabalhador restará fazer aquilo que lhe compete: zelar exclusivamente pelo seu frágil couro, cagando literalmente para o couro alheio. Já não há sindicatos, já não espírito de associativismo laboral, há simplesmente o salva-se quem puder, a lei da selva, o mato-te já antes que me mates a mim.

O retrocesso evidente deste relatório, em nome de um conceito vago e pouco tangível como o da competitividade, deixa-me com a raiva acessa. A falta de vergonha desses cabrões é um verdadeiro atentado a todos os que são obrigados a trabalhar para viver. A prepotência crescente dos poderosos de mão dada com a subserviência dão azo a esta conspiração do "ter trabalho é um privilégio". Antes dizia-se que o trabalho dava carácter, hoje sem dúvida que tira.

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segunda-feira, junho 25, 2007

quarta-feira, junho 13, 2007

Mapa pessoal

Há lugares que nos despertam, em primeiro lugar, pelo cheiro. Estive num desses nos últimos dias. Não um cheiro que se evoque, mas um cheiro que vive enquanto lá permanecemos. Quando o sentimos, veio-nos a memória do lugar e todas as coisas associadas a ele. Sensações principalmente. O cheiro desse lugar onde estive traz-me o mar na minha pele, o sabor de ameijoas à bulhão pato e muitas outras iguarias, o som dos grilos à noite e a luz do fim do dia na praia.

Este ano, para além de tudo isso e de tudo o resto das fibras da memória, dediquei-me a marcar os meus passos pela variedade das árvores e das flores. A sacar de cada uma delas o seu cheiro, a sua textura e a sua cor. Assim fiz os meus percursos a pé, com a esperança de captar aquele momento das suas vidas e sabendo que outros que por lá passem irão reencontrar outros momentos da mesma vida. Afinal uma coisa viva fala sempre mais que uma pedra, por muitos pés que a pisem.

De regresso à cidade, tiro prazer deste reencontro rejuvenescido.

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