quarta-feira, fevereiro 28, 2007

À beira de um ataque de nervos - post desabafo

Hoje ia chegar mais cedo. Tinha de passar por casa de uns amigos em férias para dar comida aos três gatos deixados na Graça. A ironia é brilhante. Hoje ouvi o despertador e, em vez de ficar 30 minutos na ronha, fiquei só 3. Levantei-me, peguei na roupa que estava no chão e, eis que, ele salta. Ele era o insignificante e repugnante ser que decidiu vir realizar um dos meus piores pesadelos, uma das minhas maiores paranóias. Ele, o rato. O rato mínimo que parece fofinho, mas que é um rato e está no meu quarto.
Depois de dar uns pequenos berros, corri para ir buscar a vassoura e vi um gato no meu pátio. Só me apeteceu ir buscá-lo para matar aquela coisa. Mas o gato fugiu. Voltei ao quarto e nada de rato. Toca de arrastar a cama, limpar tudo mais ou menos em pânico. Mais ou menos, nada. Completamente em pânico! É um rato! Eu tenho paranóia de ratos. Acho sempre que eles estão lá. E desta vez estava. Mas desapareceu. Terá ido para a sua toca, a sua casinha quentinha?
Tentei acalmar-me e meti-me no banho. Só acalmei quando elaborei um plano. Agora a coisa estava lá, tornou-se real. Logo só tenho de lidar com isso. Delineei a estratégia, respirei fundo, tratei de mim e, antes de sair de casa, ameacei o rato em voz alta, para que não restassem dúvidas.
Vou-te apanhar, rato! Vou-te dar uma sova!

Os três gatos tinham comida ainda. Duvido que apreciassem o rato.

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terça-feira, fevereiro 27, 2007

Terapia literária (porque hoje é um dia assim)

Há dias assim e ela sabia. Simplesmente sabia. Mesmo quando não estava a prever, os dias assim apareciam. Mesmo quando os antecipava e se protegia do assim desses dias, ele acontecia. Aí, a sua racionalização não chegava. A maior parte das vezes não eram assim tão fortes, estes dias assim, e por isso eram controláveis ou aparentemente controláveis. Trata-se tudo de uma questão de aparências, no fim de contas. E a expressão no fim de contas fazia rir, mesmo sem explicação aparente. De 28 em 28 dias, aproximadamente, cada caso é um caso, vinham dias assim. E os dias assim até tinham nome, um nome simples, mas quase científico, armadilhado, bem construído, que podia nem servir de desculpa, mas ao menos servia de consolo. Podia dizer: "É T.P.M., eu não sou assim". Mas isso não servia muito. Talvez servisse para se justificar aos outros, embora seja sempre um pouco embaraçante confessá-lo, como se só algumas o tivessem. Sim, porque há sempre quem diga que não tem. Até ela em tempos disse que o não tinha.
Enfim... há dias assim, pensou. E cerrou os dentes. Dos lábios dela saiu o murmúrio "vá, vem", como se pudesse controlar alguma coisa, mandar no corpo, nas hormonas, nos ovários, no óvulo e no seu amadurecimento, na descamação da parede do endométrio, enfim na expulsão da dita coisa, que se resumiria no final a uma coisa pastosa ensaguentada, ou pelo menos com esse aspecto, mas que provocaria o mais recompensante dos alívios, não da dor, mas dos dias assim. Sim, o que ela queria controlar era a expulsão. Queria ter a palavra final e poder dizer, por uma vez, "tu não me controlas". Mas sabia que era mentira e, por isso, confortava-se dizendo "há dias assim".
Não é fácil, deve o leitor constatar, para uma mulher adulta admiti-lo. "Ninguém", principalmente uma mulher que gosta de mulheres (e não falo necessariamente de lésbicas), quer assumir como fraqueza a sua realidade orgânica e hormonal. Nenhuma mulher emancipada, feminista, auto-suficiente, bem composta, bem comportada, politicamente correcta, control freak, vai assinar por baixo na frase "estou naqueles dias, dêem-me um desconto". Por isso é tão difícil assumi-lo. Principalmente se essa mulher se recusa a assumir fraquezas de uma forma geral. Principalmente se essa mulher não confia no que sente, mas apenas no que pensa.
E então ela cerra os dentes. E o texto vai longo porque é assim que ela sente esta espera. Demasiado longa a espera. E, pior, sempre com a mesma incerteza que se repete. "E se não for T.P.M.? E se ficar para sempre assim?" Não interessa quão tola seja essa dúvida, o que interessa é que ela existe e, como tal, gera a indefinição na mulher que não confia no que sente. "É ou não é? Sou eu ou é o ciclo?", repetirá para si até tudo passar.
E, no meio da incerteza, virá também a impossibilidade de se definir com os outros. Todos à sua volta, inclusive os que mais ama, estarão ao lado do que precisa, estarão errados, serão insensíveis, umas verdadeiras bestas. E a única coisa que ela espera é que não reconheçam os dias assim. Pois, quando os vêem, o que vem deles é a condescendência, sentimento adequado à situação, mas muito mal recebido por ela em dias assim. "Ah, estás com T.P.M" e o alívio do olhar exterior corresponde à assumpção da fraqueza, o que não é nada bom para ela em dias assim e noutros assim assim. Porque afinal, em dias assim, ela precisa é de uma guerra e não de um aliado trocista.
No final, quando se der a expulsão, ela sente-se finalmente nos pés que arranjou para si nos dias que não são assim. Imediatamente esquece-se dos dias assim, porque é difícil aprender com a experiência do assim desses dias. Recordam a violência infundada e o que em si não sabe controlar. Por isso, ela esquece. Volta o bom senso e a capacidade de ser racional. Voltam as racionalizações e a ilusão do controlo.
É por isso que ela, agora, diz para si "há dias assim" e reconhece que mais vale nem resistir, porque estes vão ser fortes. Cerra os dentes e espera.

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segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Detalhes

Adoro espirros de Primavera*.

Hoje dei o primeiro... está a chegar.



* Um espirro de Primavera é um espirro que se apanha no ar, do pólen ou lá o que é. Quando não se é alérgica, esses espirros são raros e apetecíveis. Peço desculpa aos meus queridos que têm a rinite nos seus narizes.

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quinta-feira, fevereiro 22, 2007

Anedota VII

O que é que há em comum entre mim, o Freud e a Carmen Miranda?
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Temos os três fruta na cabeça.

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sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Definições

Umas pessoas são o que são, outras são o que fazem.

Em princípio, no caso das primeiras, o que são também se vê no que fazem. No segundo, as pessoas esvaziam-se quando não estão a fazer. Não são nada.

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terça-feira, fevereiro 13, 2007

A propósito de meninos e meninas marotos

Lembrei-me deste teledisco brilhante do meu amigo George Michael.


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segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Finalmente...

SIM!

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sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Um testezinho para o fim-de-semana





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quinta-feira, fevereiro 08, 2007

Ainda mais material de campanha




Outros tempos de antena do MPE, aqui.

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Ler notícias quase às duas da manhã compensa

Finalmente, Jesus veio bem chamado a esta história. Para ler o artigo todo, é só clicar.

Manuel Costa Pinto, padre de Viseu, disse hoje que votará "sim" no referendo do próximo domingo, porque entende que deve acabar a humilhação das mulheres em tribunal e o "verdadeiro infanticídio" a que obriga a lei actual.

O padre Manuel Costa Pinto, de 79 anos, defende que a mulher deve ser libertada "dessa coisa vergonhosa que é o julgamento" e também do castigo da prisão, dando o exemplo de Jesus Cristo, que perdoou a adúltera.

"Jesus disse 'aquele que estiver sem pecado que atire a primeira pedra' e ficou apenas ele e a mulher. Então acrescentou: 'eu não te condeno, vai, e não tornes a pecar'. O nosso magistério, papas e bispos, não pode esquecer isto", considerou o padre Manuel Costa Pinto.

Por outro lado, o padre afirmou não compreender como "pessoas sensatas" podem alhear-se do "verdadeiro infanticídio" que muitas mulheres cometem depois do nascimento dos filhos.

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segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Eu confesso...

Sou a pessoa que já disse, numa das últimas campanhas eleitorais, a um jovem militante do PSD que me queria dar um panfleto: tu sai-me da frente.

Sou a pessoa que já disse, numa mais antiga campanha eleitoral, a um senhor militante do PS que me queria dar uma rosa: não aceito nada de partidos de direita.

Sou a pessoa que, há muitos muitos anos quando ainda nem sequer podia votar, recusou ferozmente uma caneta do então (e actual) Presidente da Câmara de Oeiras Isaltino Morais, dizendo-lhe: ainda não voto e mesmo que votasse não era em si com certeza.

Sou portanto a última pessoa a considerar para ter uma conversa séria sobre estas questões tão sérias. Há animais políticos e há bestas políticas. Eu faço parte das últimas.

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domingo, fevereiro 04, 2007

Olháli eu!

Passa uma miúda pequenita, talvez ainda não tenha dois anos. Olho para ela e penso para comigo "xiii, é a minha cara nesta idade". Calo-me porque penso que é só impressão e narcisismo tem limites de expressão. A prima, que está à minha frente alheia aos meus pensamentos, passa os olhos pela miúda que passa. Vira-se para mim e diz "xiii, aquela miúda é a tua cara naquela idade". Eu rio-me e digo que estava a pensar exactamente o mesmo, mas inibi-me de partilhá-lo. Ficamos as duas impressionadas, a tentar perceber exactamente o que é, ela diz os olhos, eu aponto para o nariz, mas até o raio do cabelo é semelhante. Acho que me sinto ligeiramente embaraçada e, ao mesmo tempo, orgulhosa. Como se algo esquecido de mim tivesse decidido aparecer para me lembrar de mim.
Há algo de assustador e ao mesmo tempo profundamente cómico em nos revermos numa miudita que passa. É um absurdo com sentido.

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sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Mais material de campanha

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